quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Dos méritos de Oscar Niemeyer o maior deles foi a longevidade! Foi mais de um século vivido durante a mais súbita mudança social, cultural, política e tecnológica da história! Arquiteto polêmico ajudou a projetar uma cidade em que ele mesmo jamais morou. Comunista não dividiu sua fortuna com os trabalhadores que executavam seus projetos. Porém viu nascer e morrer dois Papas, coexistiu com as duas 
guerras mundiais e viu o primeiro campeonato brasileiro de futebol. Oscar nasceu antes do Óscar e antes de Hollywood! Nasceu antes do samba! Tinha 28 anos quando Elvis nasceu e 70 quando ele morreu. Em sua infância não havia democracia, pizzaria, restaurante japonês, lápis de cor, televisão, rádio a pilha, rádio FM, supermercado, semáforo, fita cassete, Cristo Redentor, fone de ouvido, código de barras, liquidificador, garrafa pet, chuveiro elétrico, não havia sequer pasta de dente e o estado de Roraima! Nasceu antes do aço inox, do acrílico, do isopor, do nylon e do neon! Ele viu Plutão ser descoberto e depois ser "rebaixado." Viu também o cometa Halley passar duas vezes! Viveu num tempo em que tirar a roupa era diferente, não existiam os sutiãs, zíperes, velcros e biquínis... Diferente do que alguns piadistas dizem ele não coexistiu com a Arca de Noé (nem ele nem ninguém), mas ele coexistiu com o Titanic! Já tinha 29 anos quando o primeiro aeroporto do Brasil foi inaugurado, 47 quando Tolkien publicou "O Senhor dos Anéis"!! Tinha 61 anos quando o homem chegou à Lua. Sobreviveu a dezenas de pseudos fins do mundo, mas para ele o mundo de fato acabou em 2012.

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Cultura...


  A cultura de um povo é formada por uma série de invenções, delírios, costumes e tradições que para esse povo são sólidas e verdadeiras, por mais absurdas que possam parecer!
  Em que ano estamos? Um Chinês diria: "ano 4710". Você ama sua esposa? Um Sheik Árabe responderia: "amo todas as 27 esposas que tenho!" Confusão seria para ele se a lei árabe fosse como a de Hong Kong, pois lá uma mulher traída pode legalmente matar seu marido adúltero, mas deve fazê-lo apenas com suas mãos. Em contrapartida, a mulher adúltera pode ser morta de qualquer outra maneira pelo marido. Como a ideia da liberdade da mulher é algo historicamente recente é comum vermos muito machismo nas culturas, no cristianismo não existe mais a necessidade da virgindade e o vestido branco perdeu o sentido original, porém, na cultura cigana a virgindade é imprescindível, ciganos têm uma moral conservadora e casam-se cedo, muitas vezes em acordos firmados entre famílias, nenhuma mulher pode sequer mostrar as pernas, daí a imposição das saias compridas e rodadas. Falando em virgindade, no Guam: há homens cujo emprego em tempo integral é viajar pelo país e deflorar virgens, que os pagam pelo privilégio de ter sexo pela primeira vez. Isso porque pelas leis de lá, é proibido virgens se casarem. Não faz muito tempo no Afeganistão era permitido jogar pedras publicamente em mulheres que tenham tido sexo fora do casamento... Casamento inclusive é uma das invenções que nunca deram certo em cultura alguma! Aqui no Brasil que possui a herança cristã da monogamia (e da hipocrisia), primordialmente a esposa era propriedade do marido, por isso ela é quem muda o sobrenome, ela então ficava em casa cuidando do lar e dos filhos e os maridos podiam farrear com prostitutas a vontade, mulher desquitada era como puta! Seguindo o padre que dizia que o que deus une o homem não separa o divórcio era um tabu maior que o aborto e a pena de morte são hoje em dia! Porém agora, ao menos por aqui, as mulheres conquistaram sua liberdade e a cada ano o número de divórcios aumenta e a média dos casamentos duram menos, e a sociedade e a igreja é claro, acabaram se adaptando. No tempo da minha avó já haviam casamentos de viúvas (mesmo que raros), porém nem ousavam usar um vestido branco... 
Mudar e usar a natureza sempre fez parte da cultura dos povos, por isso seres humanos que são poligâmicos por natureza, forçam uma monogamia e hoje é comum convidar para o aniversário o ex-marido da ex-esposa que hoje está casada com o ex-cunhado do ex-namorado da ex... bom, acho que deu pra entender! Enquanto isso no Zimbábue um marido ameaçou se divorciar da mulher que havia comido o peito e a coxa de um frango, pois a tradição diz que as mulheres devem deixar para os homens a partes "nobres" da ave. Já no Líbano os homens podem legalmente ter relações sexuais com animais, desde que sejam fêmeas. Se tiver relações sexuais com machos são punidos com a morte, por isso é muito importante desde cedo aprender a reconhecer o sexo dos animais, a diferença entre uma cabra e um bode, entre um galo e uma galinha... Enquanto essa suruba zoofilista é permitida no Líbano, no Egito a TV não mostra sequer um beijo, pois em público os beijos entre casais são severamente proibidos. Porém, enquanto é proibido o beijo entre casais, para não despertar "imaginações impuras", é comum o beijo entre os homens: três beijinhos na face, às vezes bem molhados... Mas esses beijos entre os homens não chegam a causar a mesma estranheza no Ocidente como aqueles beijos na boca de antigos figurões soviéticos.
  As moças egípcias, em princípio, casam virgens. Não é permitido à moça solteira manter conversa com homens. Nas escolas, os meninos sentam em bancos separados das meninas. Segundo os árabes, "a mulher é uma flor tenra que precisa ser preservada". Por isso o uso do véu, que esconde os cabelos das mulheres. A mulher muçulmana casada, no Egito, não mostra seus cabelos a não ser para o marido e pessoas da família. Imagino a aberração que deve ser para o povo de lá um simples domingo de sol numa de nossas belas praias catarinenses.
  Aberração mesmo é a cultura de se divertir usando animais, aqui no Brasil existem vários exemplos: o abominável rodeio e as proibidas mas existentes farra do boi, assim como as rinhas de cães. Na Espanha havia a tradição da tourada que felizmente hoje é proibida mesmo sendo quase que um cartão de visita do país! No Timor Leste a Briga de Galo é sem dúvidas um esporte nacional, e mesmo na difícil situação em que vivem, os homens gastam muito dinheiro com apostas. Lá o homem cuida do galo como quem cuida do filho, povo doido esse do Timor Leste, sempre que alguém passa nas ruas, o povo timorense pergunta “para onde vai?” Com isso, todos sempre sabem onde todos estão, e isso independe se ele te conhece ou não.
  Grande parte dos indianos e marroquinos tem o hábito de comer com as mãos. Que tal comermos uma sopa de rato (quiçá com as mãos) e rezar para uma vaca? Já na Tailândia eles preferem os ratos assados na brasa, a Tailândia é o terceiro maior consumidor de carne de rato do mundo e existe até a profissão de caçador de ratos!
  Falando em prato exótico que tal um sanduíche de minhoca muito comum na Austrália e Nova Zelândia? 
  Mitos urbanos existem também por toda a parte, no Tibet, quando um casal tem dificuldades para engravidar, o marido e a esposa bebem a urina um do outro acreditando que isso trará fertilidade... Se você não curte urina que tal um vinho de sangue de cobra? Na cidade de Saigon, Vietnam  é muito comum nos restaurantes as pessoas tomarem sangue de cobra como vinho e é considerado algo chique! Assim como os mitos algumas vezes fazem sentido pelo contexto histórico, geológico, geográfico como por exemplo: os nórdicos tinham um deus para defende-los dos gigantes de gelo, alguns paladares estranhos tem a mesma “lógica”;  no Alasca o prato principal dos esquimós são focas, na Bolívia é comum carne seca de lhama (apesar de hoje ser um prato sofisticado), na África do Sul comem carne de zebra, crocodilo e impala e na Austrália carne de canguru pode ser facilmente encontrada nos açougues, porém alguns hábitos, eu realmente não vejo sentido, como o dos Coreanos comerem cachorro e no Azerbaidjão comerem pênis de carneiro recheado com verduras! 
Não sei de onde surgem certas culturas, e muito menos exatamente de onde vêem tantos mitos e como exatamente eles são criados, sei que muitos foram criados para explicar o que não podia ser explicado outrora pela lógica e pelo conhecimento cientifico, outros mitos e lendas foram criados por simples entretenimento, como as histórias de vampiros. Tem até os que foram espalhados por algum propósito como o popular mito da manga com leite ser fatal quando ingerido simultaneamente. Esse foi criado para evitar que os escravos tomassem o leite, ou comecem a manga, ou a melancia como é relatado em outras versões, enfim, uma coisa é fato: a suprema maioria das pessoas adora acreditar e detesta saber! Uma mentira agradável é sempre melhor recebida que uma verdade desagradável! Você que lê agora esse texto acredita em tudo o que foi escrito? Será que realmente existem todas essas culturas que relatei? Não posso estar apenas zoando, inventando fatos e relatando-os por pura diversão? Checar a fonte de tanta informação daria um trabalhão, né? Pois é...

(Cleiton Profeta 09/11/2012)


quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Raul com Maracatu!!


Gravado ao vivo no dia 24/08/2012 no Joinville Square Garten
Participação especial: Grupo Morro do Ouro


LOTERIA DA BABILÔNIA
(Raul Seixas)
*texto de Oswaldo Montenegro


Vai! Vai! Vai!
E grita ao mundo
Que você está certo
Você aprendeu tudo
Enquanto estava mudo
Agora é necessário
Gritar e cantar Rock
E demonstrar o teorema da vida
E os macetes do xadrez
Do xadrez!...

Você tem as respostas
Das perguntas
Resolveu as equações
Que não sabia
E já não tem mais nada
O que fazer a não ser
Verdades e verdades
Mais verdades e verdades
Para me dizer
A declarar!...

Tudo o que tinha
Que ser chorado
Já foi chorado
Você já cumpriu
Os doze trabalhos
Reescreveu livros
Dos séculos passados
Assinou duplicatas
Inventou baralhos...

Passeou de dia
E dormiu de noite
Consertou vitrolas
Para ouvir música
Sabe trechos da Bíblia de cor
Sabe receitas mágicas de amor...

Conhece em Marte
Um amigo antigo lavrador
Que te ensinou a ter
Do bom e do melhor
Do melhor!...

Mas o que você
Não sabe por inteiro
É como ganhar dinheiro
Mas isso é fácil
E você não vai parar
Você não tem perguntas
Prá fazer
Porque só tem verdades
Prá dizer
A declarar!...

"Dizia Erasmo de Rotterdan
Que o pai da loucura é Platão
A mãe dela é a juventude
E dizem que teve um irmão
Que batizou enstusiasmo
E mora no Maracanã
Passeia em casais abraçados
E dorme no colo de Yansã
A natureza não precisa de arte
O amor não precisa do poeta
Às vezes, é o porto que parte
E é o alvo que procura a seta
Talvez seja filosofia
Talvez seja falta de assunto
Mas não há quem dirá (quem diria)
A verdade só, só junto
Que junto a verdade aparece
E ser só metade é ser só
E só quem amou sabe disso
Gigante olha a pedra e vê pó"


Voz: Cleiton Profeta
Violão: Fábio Cabelo
Baixo: Vagner Magalhães
Guitarra: Vitor Roberto
Bateria: Rafael Vieira
Lata: Cleiton Profeta e Fábio Cabelo
Maracatu: Grupo Morro do Ouro

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

O Diário do Hippie/ Um Bilhete Pra Didi (Ao Vivo no Square Garten)



Gravado ao vivo no dia 24/08/2012 no Joinville Square Garten

O DIÁRIO DO HIPPIE/
(Cleiton Profeta)
*texto de Oswaldo Montenegro

"O meu nome é João da Serra 
e ói que vim lá do nordeste 
vim correndo pra essas terras 
vim fugido do agreste 
vim de coração aberto 
com esperança no sudeste 
quando fui chegando perto: 
"sai daqui cabra da peste" 

Eu não entendo como pode tanto estado 
nesse estado estupefato da federação 
De trampo em trampo eu subi caatinga na cantiga
com um pé na frente e no bolso a mão 

A outra mão eu abanei pro moço 
que eu ouvia na televisão 
era "Velos..." a favor do vendo 
com o lenço e o documento 
e cinco dedos em cada mão 

Micróbio brabo é sangue ruim na veia 
comi galinha em dia de natal 
segunda-feira decretava feriado 
lado a lado, bajulado 
meu amigo é o carnaval 

Deu sete dias eu cheguei em casa 
assoviei contente ela sorriu 
curei ressaca com um café bem quente 
fui tocando em frente 
fé na tábua por esse Brasil... 


"Perdi minha cabeça ainda moço 
fui parar assim de repente 
no sertão de Mato Grosso
transformado em "capitá"
cheguei lá me deu um troço
tive vontade de voltar
mas aguentei e roí o osso
e até hoje eu não entendo
porque bom cabrito berra 
e eu não consegui berrar"

Na catequese quando eu mostrei os dentes
pra lembrar como se reza 
o padre disse: "eu era o cão"
mordi o osso, abanei o rabo
balancei pro Rex I'm not no cachorro não

I'm not no cachorro não
I'm not no cachorro não
I'm not no cachorro não
I'm not no cachorro não


Mil badulaques eu vendi na feira 
driblei Conurb, camelô e fiscal 
Marijuana, macramé, pulseira peruana 
Porcelana, bibelô, conhaque, frio, to mal 

Maluco doido, é beleza pura 
torresmo frito, macarrão com atum 
parti em dois, agora to sozinho 
ela ficou no ninho 
na volta vou fabricar mais um 

"Eu senti tristeza rara e fui bater no Paraná 
pois ninguém me olhou na cara e eu fugi também de lá 
fui pro Rio de Janeiro pra tomar banho de mar, 
acenei pra um companheiro e ele quis foi me assaltar 
eu aí franzi o centro: é melhor tomar cuidado, 
se eu lhe der tudo o que tenho vais ficar endividado... 
Ele disse: "vai te embora paraíba desgraçado, 
não suporto e boto fora, nordestino, preto e viado" 
Fui me embora pro serrado pra falar com o presidente 
ele tava ocupado, eu gritei que era urgente 
ele disse: "seu menino, o meu cargo é coisa quente 
eu também sou nordestino, mas não há chance pra gente" 
Pois voltei pra cá de novo, pois preciso trabalhar 
num prédio maravilhoso que dá gosto só de olhar 
com amor e sacrifício ponho o tijolo no lugar 
construindo um edifício onde eu nunca vou morar" 


Voz e violão: Vagner Magalhães
Violão: Cleiton Profeta
Baixo: Fábio Cabelo
Guitarra: Vitor Roberto
Bateria: Rafael Vieira
Locução: Oswaldo Montenegro

UM BILHETE PRA DIDI
(Jorginho Gomes)

instrumental

Violão: Cleiton Profeta
Violão: Fábio Cabelo
Baixo: Vagner Magalhães
Guitarra: Vitor Roberto
Bateria: Rafael Vieira

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quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Pequeno Conto de Terror

Dizem que somente  o tempo poderá deter tal criatura! A mais abominável das criações! Alimentado com mitos em ritos, trouxe ao mundo a Idade das Trevas. Muitos morreram em seu nome, outros foram torturados, bibliotecas destruídas, verdades e curas proteladas... Heróis uniram força para destruir esse mal, mas mesmo atingido ele aniquilava um a um, os homens de bem não desistiam, surgiu então um caixão capaz de enterrar o assombro, chamaram de Renascença e a sombra das trevas parecia dar lugar a luz da razão, os humanos se colocaram a frente desse espectro e Galileu tentou pregar o ultimo prego no caixão, mas a criatura ainda tinha forças para lutar, astrônomos, então se aprimoraram e sepultaram o mal. A cada pá de lógica, mais fundo o monstro era enterrado. Veio então a Idade da Razão, mas ao contrário do esperado a nuvem negra voltou em forma de zumbi que se alimenta de mentes vazias de humanos...

E o final? Responda você!

(Cleiton Profeta - 05/09/2012)

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Profecias no Square Garten!



Gravado ao vivo no dia 24/08/2012 no Joinville Square Garten

PROFECIAS NO PAÍS DOS GUARDA-CHUVAS
(Cleiton Profeta e Vagner Magalhães)

Por entre transeuntes que se atropelam pelas ruas
Inúmeras são as formas de se ver o que se há
Não é o que parece e aparece a todo instante

Em gritos anunciados pelos tantos alto-falantes
Se informam a respeito do que possa parecer
Se ta frio ou ta calor, se vai chover!


Entre o artista e o analista de sistema eleitoral
do partido que propôs ideologia liberal
Para Tantos, Para Todos, para mim

Fica o barraco e o buraco que sabota a bota encharcada 
pela chuva que vem gota a gota derramada
e a galera de suor a se molhar acostumada

Príncipe vira sapo de lagoa e se a vida anda boa,
ainda pode ser melhor
Príncipe vira sapo de lagoa e se a vida anda boa,
ainda pode ser melhor

E nada muda no país das bicicletas
E nada muda no país das bicicletas
E nada muda no país das bicicletas

Voz: Vagner Magalhães
Violão: Cleiton Profeta
Guitarra: Vitor Roberto
Duocello: Fábio Cabelo
Bateria: Rafael Vieira

Vídeo e edição: Cleiton Profeta
Câmeras: Muriel Szym e Jamille Profeta

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terça-feira, 21 de agosto de 2012

Semântica...

   Eu tenho que parar de pensar no real significado das palavras. Tenho que aprender que para as pessoas pouco importa que "chocolate branco" não é "chocolate", pois a partir do momento que vem escrito "chocolate" na embalagem, é chocolate e pronto! "Vinho doce" que catarinense adora, também não é "vinho", assim como leite com açúcar não é só leite, né? Mas é assim... como expressões idiomáticas e gírias, quando as pessoas falam: "country" elas querem dizer: "sertanejo-universitário-mela-cueca", não é culpa delas, afinal essa ideia é vendida na cultura de massa, da mesma forma que se referem a "música gospel" para o que na verdade é "música evangélica/cristã". Certa vez um cara me deu um CD que segundo ele era: "Samba Gospel", fiquei curioso, imaginei o coro somado ao swing do samba com letra malandra... depois de ouvir pensei: "será que conto que na verdade é um "pagode evangélico"? 
   Dentro dos rótulos que facilitam as pessoas a se socializarem todo negro é pagodeiro e todo cabeludo é rockeiro, mas nem todo rokeiro é cabeludo, rockeiro é na verdade qualquer pessoa que escute de Chuck Berry a Los Hermanos, daí se complicar um pouco eles usam a palavra "alternativo", li faz algum tempo em uma revista de Joinville: "ele escuta sons alternativos como Eric Clapton", é a semântica transformando um artista que faz 4 décadas que lota estádios pelo mundo em "alternativo", se ouvir "hard rock" já vira "metaleiro". Rockeiro também é aquele que odeia "Funk"... Ué? Mas como rockeiro pode odiar funk se eu acabei de citar Chuck Berry? Poutz já tinha me esquecido de novo... eles também não sabem o que é "funk", chamam de "funk o "batidão carioca". Talvez eu devo ser chato com esse negócio de semântica, pouco importa se o povo chama a "vassoura" de "bassoura", pois como diria a minha mãe: "ela varre do mesmo jeito", pouco importa se é "trabesseiro" ou "travesseiro", bom mesmo é que seja (ou seje) macio. O fato é que teorizar faz mal a arte... Como diria um amigo:
"Pensar é pra quem sabe, e artistas não sabem que sabem. São pura intuição. Mesmo com técnica, são instinto.
O poeta tem que olhar para as palavras como o amante olha pra mulher.
O ginecologista estudou o ser feminino por dentro, mas comparado a Vinícius de Moraes não sabe nada."


(Cleiton Profeta, 21/08/2012)

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

MUDAMÚSICA ENTREVISTA


Em entrevista, Cleiton Profeta, líder do Circus Musicalis, fala um pouco sobre o show, a carreira e as dificuldades de apoio ao artista independente. CONFIRA:
MUDAMÚSICA: Recentemente o grupo completou 10 anos de carreira, certo? O que devemos encontrar nesse show pode considerar-se, de certa forma, uma “coletânea” de bons momentos desse tempo juntos?
CLEITON: Certíssimo, contando do dia em que subimos ao palco pela primeira vez pela alcunha de Circus Musicalis, agora em outubro estaremos fazendo 11 anos. No show tocamos vários temas dos musicais, como “Cantos” e “Ao Tempo”, mas tocamos também coisas novas, como “O Tempo e a Chuva” e “Profecias no País dos Guarda-Chuvas” que também dá nome ao show e ao novo projeto áudio-visual que estamos fazendo…
MUDAMÚSICA: Ainda em relação a estes 10 anos. Qual foi o ponto de partida para o grupo? De onde surgiu?
CLEITON: O Circus Musicalis foi “concebido” no inverno de 1998 no trapiche de São Francisco do Sul, quando eu, o Paulinho Dias e o Fábio Cabelo passamos a noite tocando violão, algumas músicas como “Cantos” e “Fogo de Chão” são dessa época… O Circus gravou uma Demo caseira pouco tempo depois, e estreou em 2001. No ano de 2000 a gente passou um tempo com o Oswaldo Montenegro em um projeto dele.
MUDAMÚSICA: Eu particularmente, conheci o trabalho de vocês por conta de um pessoal lá de São Paulo que assim como eu, acompanhava a carreira do Fernando Anitelli e do Teatro Mágico lá no começo. E sinto, infelizmente, que muita gente que teria o perfil do “publico” de vocês (se é que há um perfil) ainda não os conhece. Você credita isso a falta de incentivo aos artistas locais, especialmente aqui em Joinville?
CLEITON: Todo artista tem sim um perfil de público, e acredito que possa haver alguma relação. Percebo que normalmente pessoas que gostam de determinados artistas consequentemente gostam do Circus.
Sobre a projeção, isso é um assunto complexo, Santa Catarina nunca projetou nenhum artista nacionalmente ao “mainstream”, alguns chegaram perto como o Dazaranha no final dos anos 90, o grupo Expresso nos anos 80, eu costumo brincar que nesse quesito Santa Catarina não serve nem pra separar o Paraná do Rio Grande do Sul (risos). O mercado aqui é pequeno e os profissionais da área (músicos, produtores, estúdios, etc) muito amadores, além de existirem vários fatores pra que isso aconteça. A suprema maioria dos artistas locais por exemplo, sonha em mandar um CD demo para uma rádio e ser descoberto, e é lógico que isso não existe, o que impera no mercado é o jabá. Talvez existam algumas exceções, mas 99,9% do mercado é regido por essa realidade, estando dentro de um grande centro, há mais possibilidades de contratos e negócios, estando fora tudo fica mais difícil, até pela logística, o centro-oeste do país é sem dúvida onde há a maior concentração do mercado, e estando lá se está no meio do país…
Não acredito muito em leis de incentivo, acho que se o governo quisesse realmente “incentivar” a produção artística, cortaria os impostos e faria o incentivo de forma justa a todos, e não somente a meia duzia de “agraciados” e muito menos a artistas consagrados como Caetano Veloso, Vanessa da Mata, Xuxa entre outros, que somados os valores de Rouanet, ultrapassam a casa dos bilhões de reais. Portanto, não espero muita ajuda nesse sentido, claro que espero também que pelo menos não atrapalhem, como ECAD, Ordem dos Músicos e outros órgãos tem feito.
MUDAMÚSICA: A banda toda é daqui?
CLEITON: Sim, atualmente a banda é toda de Joinville.
MUDAMÚSICA: Sobre o Teatro Mágico, o próprio Fernando Anitelli já citou vocês em alguns momentos. Há uma parceria? Um contato?
CLEITON: O Fernando é amigo do Paulinho Dias, nosso ex-vocalista, amigo e parceiro eterno. O Paulinho inclusive chegou a me mostrar a demo do Anitelli antes de virar O Teatro Mágico. Confesso que não acompanho a trupe, mas dessa demo eu lembro que gostei bastante. O Paulinho chegou a gravar as flautas e fazer backing vocal no primeiro CD deles que se não me engano se chama “Entrada para Raros”. Acho que o TM tem uma coisa bacana da coletividade, nisso eu comparo com a gente, pois o Circus sempre foi coletivo, nosso primeiro projeto já em 2001, contava com bailarinos, atores e amigos convidados. Eu nunca acreditei nessa coisa de rótulos, do rockeiro ouvir rock, o sambista samba, esse tipo de segmentação é irresponsabilidade da mídia que informa mal, somado a preguiça que as pessoas tendem a ter em procurar saber sobre as coisas, elas preferem simplesmente acreditar… vejo a arte de forma coletiva, e assim como a ciência, a filosofia e a tecnologia que está sempre se somando e em constante mutação.
MUDAMÚSICA: O que o público que ainda não conhece o CIRCUS MUSICALIS pode esperar desse show?
CLEITON: Tenho certeza que o público que ainda não conhece o Circus, irá se surpreender. A banda tá afiada e o elemento surpresa sempre fez parte de nossas apresentações ao vivo, seja na interação, no conceito multi-mídia ou até no repertório.
Eu sugiro que as pessoas entrem no nosso site http://palcomp3.com/circusmusicalis/ , e escutem as canções disponíveis, pois visto da ótica do público geral, sei que um show é ainda mais bacana quando conhecemos as músicas.
MUDAMÚSICA: O que seria esse “conceito multi-mídia”?
CLEITON: Esse conceito nasceu da ideia de ilustrar as canções, sou de uma geração que via a música como produto principal. Lembro que era comum minha família ficar na sala ouvindo discos inteiros, e quando adolescente nos juntávamos para casa dos amigos para ouvirmos os discos e compartilhar a música. Hoje não há mais isso, nunca se escutou tanta música, mas ela se tornou segundo plano, um pano e fundo. Ela entra na vida como no cinema, como trilha, não é mais o foco. Falei isso porque lembro que eu ficava impressionado com álbuns conceituais do Alice Cooper, onde o disco contava uma história. Lembro que me impressionava com a capa do Raul Seixas: “Há Dez Mil Anos Atrás”. Lembro que quando criança, quando tudo era ainda mais lúdico, que as ilustrações nos discos do Balão Mágico remetiam a forçar uma ligação entre a música e elas, assim como tentava encontrar cada personagem descrito nas canções figurado na capa no “Live Evil” do Black Sabbath que ganhei de natal no inicio dos anos 90. De alguma forma o Circus Nasceu com esse propósito, de dar vida as canções, mas sempre tendo elas como a causa, todas as demais artes/mídias são efeitos da música.
MUDAMÚSICA: E sobre o repertório do show? Alguma coisa pra adiantar?
CLEITON: O repertório passeia por canções de todas as fases do Circus, mas posso adiantar que será um show com uma pegada bem rock ‘n rol!
MUDAMÚSICA: Além dos músicos, quem mais faz parte da “equipe” para o show?
CLEITON: A pesar de pretensioso, pertenço ao circuito alternativo, e se no mainstream, artista como Alceu Valença vem se obrigando a fazer turnês “voz e violão” por questões óbvias de redução de custo, imagina para agente (risos). Mesmo assim além dos 5 integrantes da banda (eu o Vagner Magalhães, Fábio Cabelo, Rafael Vieira e o Vitor Roberto), a gente conta com mais algumas pessoas trabalhando nos bastidores e na técnica. O Kadoo Lopes é nosso VJ, a Naiana Hess iluminadora, o Muriel Szym ator e assistente de palco, fora roddie e algumas vezes músicos convidados.
Mas a vontade que tenho sempre é colocar 50 no palco (risos).
 O QUÊ: Show com O Teatro Mágico, Circus Musicalis e Fevereiro da Silva
QUANDO: 24/8 às 22 horas
ONDE: JOINVILLE SQUARE GARDEN
INGRESSOS: http://www.oiingressos.com.br/evento.php?eve_cod=185

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

André Midani, sobre o Jabá.


Ex-presidente da Warner (gravadora Warner Music) um dos nomes mais importantes da indústria fonográfica brasileira dos anos 60 aos 90, conta como é feita a cobrança para execução de música nas rádios e TVs, conhecida como jabá.


Entrevista explosiva ao jornalista Pedro Alexandre Sanches da Folha de São Paulo.


Folha - Na indústria fonográfica, é unânime a afirmação de que não existe jabá no Brasil. É verdade?


André Midani - Não, o jabá existe. Acho que sempre existiu. Não é uma coisa nova, nem particular da indústria fonográfica. É uma coisa universal, acho que desde que o homem começou a existir. Sempre se ouve falar "vamos acabar com a prostituição", "vamos acabar com as drogas", "vamos acabar com o jabá", que é uma corrupção, não é? O mundo nasceu corrupto e acabará um belo dia na miséria da sua corrupção.


Quanto ao mercado musical, o jabá, porquanto eu saiba, já existe desde o século 19, quando o grande astro da música era a ópera. Havia um grande terreno de ensaio dos novos tenores e sopranos que estavam para ser descobertos, em Marselha, na França. Lá, os empresários de novos talentos da época compravam 50, 80, cem lugares dos teatros e davam de graça para as pessoas aplaudirem muito. Era uma forma de jabá. Isso é inerente ao negócio, existe desde o início da música como setor lucrativo.
Quando cheguei no Brasil, em 55, o jabá não existia do jeito que possa ser pensado hoje. Mas havia meios de pressão desde aquela época. Tal como ele é hoje, e em quantidades talvez menores do que agora, o jabá começou, creio, em 70, 71 ou 72.
Eu tinha uma parte grande dos artistas importantes daquela época, então não tinha tanta preocupação. Fazia sucesso no rádio porque os artistas genuinamente faziam sucesso.
Mas num belo dia um colaborador meu chegou dizendo que estava havendo um movimento segundo o qual o pessoal do rádio gostaria que se reconhecessem seus méritos. Ele foi conversar com eles e voltou me dizendo que tínhamos que tomar certo cuidado, porque se havia formado uma rede entre vários programadores importantes de Rio e São Paulo. Eu disse: "O que me importa?".
Tive a precaução de telefonar para alguns artistas e explicar o que estava acontecendo, que eu não estava a fim de entrar naquilo e que estava dando a instrução de não participarmos. Os artistas apoiaram, aplaudiram. Para minha surpresa, uns dias depois a gente saiu de programação.

Folha - Saiu literalmente, por completo?

Midani - Não me lembro direito mais, mas a imagem que tenho é de que os nossos discos de sucessos naquele momento... havia um de Chico Buarque, por exemplo, saíram de programação. Aguentei uma semana, duas semanas. Na terceira não deu mais para aguentar, porque os próprios artistas chegaram dizendo: "Pelo amor de Deus, como vai ficar essa história? A gente está fora do ar". Era uma preocupação legítima deles.

Então foi, creio, a primeira vez que isso aconteceu. Dali por diante houve altos e baixos, e o jabá estava instalado. Tomei uma atitude bastante pragmática, dizendo: se esta é a regra do jogo, lá vou eu com a regra do jogo.

Folha - Quais eram as regras do jogo?

Midani - As regras eram lamentáveis, porque, como em muitas coisas aqui no Brasil, não eram profissionais. Eu tinha vindo em 55 do México, onde o jabá já rolava com grande despudor. Mas lá, um dia, estava eu na sala de um diretor de companhia, competidor meu, e tocou o telefone. Era um jabazeiro (locutor, programador, sei lá), e meu colega disse, com o palavreado mais vulgar: "fiz um compromisso com você de tocar X vezes por dia e você não está tocando, amigo! Ou você toca ou você sai do rádio, porque eu vou lhe colocar para fora!".
No México pelo menos, havia uma regra (ri): "toco cinco vezes por dia, lhe pago tanto e agora você tem que tocar". No Brasil se tentou várias vezes para se negociar isso, de as rádios tocarem o que as gravadoras queriam, o que seria justo dentro desse esquema injusto. Mas aí sempre se deu um jeitinho aqui, outro lá, e o fato é que a indústria perdeu muito rapidamente o controle sobre o que se tocava. Pagava e não sabia se ia tocar.

Folha - É o que acontece até hoje?

Midani - Não, piorou. Hoje não estou muito a par, mas piorou. Não me lembro direito, mas devo ter tido várias interferências dentro da indústria, no sentido de dizer "vamos parar com esse negócio".
Minha próxima interferência formal já foi mais tarde, acho que em 78 ou 79, já na Warner. Estava lançando Baby Consuelo e Pepeu Gomes, que como integrantes dos Novos Baianos haviam sido os protegidos e queridos do Chacrinha. De repente recebo a notícia de que o Chacrinha disse que, se não pagássemos, Baby e Pepeu não apareceriam em seu programa. A coisa mais inteligente que achei por bem fazer foi denunciar isso nos jornais. Em termos de companhia, isso me custou caro.
Fui aos jornais, dizendo factualmente que Chacrinha queria cobrar dinheiro para passar os artistas no programa Jabaculê. Isso me custou a adesão à causa do Chacrinha de outros meios de comunicação. Rádios e outros programas de TV passaram a cobrar também.
Agora, como é que a indústria se manifesta nessa história? Vamos dizer que existem cinco importantes companhias na indústria. Várias vezes os presidentes das companhias de discos foram se reunir para tentar chegar a um acordo. Essas coisas acontecem em momentos de crise do mercado ou de crise financeira, quando você vê que o orçamento para o jabá é tão grande que realmente desestabiliza um pouco sua economia interna.

Folha - Você pode quantificar o peso dos orçamentos das gravadoras destinados ao jabá?



Midani - Gostaria de dar uma porcentagem, mas o conceito de publicidade mudou muito no decorrer dos anos. Na época em que isso começou, a verba publicitária era 5% das vendas, em geral. Na época do Chacrinha, com certeza era alguma coisa como 10%. Até o momento em que eu estava militando, ou seja, até dois anos atrás, os orçamentos publicitários variavam entre 12% e 16%. E na última vez que vi ou ouvi falar de números, entre o jabá que você dava e alguma regalia, podia chegar a representar 70% das verbas de publicidade.


Folha - O jabá então é a principal fatia da publicidade?

Midani - É, e asfixia a indústria. Na minha época brasileira não chegava a asfixiar, era mais uma questão moral: o que é isso, o cara já ganha seu dinheiro e ainda quer ganhar para tocar disco meu? Se não houvesse meu disco ele não teria uma estação de rádio, o ponto de partida é esse, o absurdo. 
Pensava que se as cinco companhias se levantassem juntas, em um ano, sem grandes prejuízos, botavam as rádios que praticavam jabá fora do mercado.


Folha - Isso não acontecia por falta de capacidade de articulação da indústria fonográfica?

Midani - Pode-se dizer exatamente isso. No sentido do jabá e das pressões, a indústria fonográfica, mais no Brasil que em outros lugares, é uma indústria muito frágil.

Folha - É refém das rádios?

Midani - É refém de muitas coisas, mas, nesse sentido, é refém do jabá.

Folha - O esquema montado pelos programadores no início não tinha a participação dos donos das emissoras?

Midani - Não. O que aconteceu é que os funcionários de rádio não ganhavam e não ganham muito dinheiro. São salários modestos. Então no início o disc-jóquei encontrou nessa manobra um meio de ganhar um pouco mais. Isso foi cegamente apadrinhado pelos donos das rádios. Eles ficavam contentes, pois não tinham que aumentar os salários. Começaram a fechar os olhos, porque era conveniente para eles. Mas, na medida em que a soma de dinheiro foi ficando maior, os donos começaram a pensar: "Mas e eu nessa história?".
Então houve decisões, por certos donos de rádio, de dizer: "Tudo bem, mas o dinheiro é meu". Entraram em contato com as companhias de disco e disseram: "A partir de agora quem manda na programação da rádio não é meu programador ou meu disc-jóquei. Sou eu". Passaram acordos que, no início pelo menos, foram acordos comerciais. Aí, sim, era uma relação profissional.
Tutinha, da Jovem Pan, por exemplo, gostava do disco ou não. Se ele não gostasse do disco não pegava acordo financeiro com a companhia, não havia jeito. Já não se pode chamar isso de jabá, é uma relação comercial como outra. Tutinha, pelo menos, era um grande profissional. Não sei como está hoje, mas era. Se não gostava do disco dizia: "Não toco". Se gostava, então se sentava lá para uma negociação. E ele fazia isso de uma forma profissional: "Vou tocar tantas vezes por dia, vou fazer um especial". Armava-se quase que uma operação de marketing genuína.

Folha - Então você tinha que agradar e também pagar?

Midani - Mas a regra desta vida tem sido essa. Evidentemente há um lado obscuro nessa história, do porquê da fragilidade das companhias de disco. O óbvio é o resultado comercial, o resultado promocional. Mas, se pelo lado dos presidentes e diretores havia grandes ressalvas sobre a prática, o jabá representava para muitas pessoas dos departamentos de promoção com rádio uma possibilidade de dizer: "Toma dez, mas eu fico com dez". Você se reencontra com um câncer estabelecido dentro da companhia. Isso lutava contra qualquer política encontrada por qualquer companhia para eliminar o jabá.

Folha - Então havia gente dentro das gravadoras fazendo acordos clandestinos com gente das rádios?

Midani - Até um momento houve o pagamento em espécie. Não havia recibo, nada. Então certos divulgadores na segunda-feira pegavam uma bolada de dinheiro lá e iam distribuir. E guardavam uma parte para eles. Se estabelecia uma cumplicidade entre representante da gravadora e representante da rádio.
Aí veio um outro elemento. Até os anos 80, vamos colocar 85 como uma data hipotética, a lucratividade de uma companhia de discos era uma coisa desejada, como em qualquer negócio. Mas me refiro agora às relações entre os presidentes das companhias e as matrizes das multinacionais. Nos anos em que trabalhei na Philips, uma vez por ano ia à Holanda e dizia: "O ano foi assim". Quando muito a cada três meses a gente mandava um relatório. As companhias naquela época eram uma brincadeira gostosa do dono de cada conglomerado.

Folha - Por que isso se modificou nos anos 80?

Midani - A coisa começou a degringolar quando as companhias de discos e seus conglomerados foram comprados por megainvestidores que tinham suas ações no mercado de Wall Street. Paulatinamente a indústria fonográfica, que era uma indústria que tinha amor na música, (era de relações públicas, de imagem), passou a ser um centro de puro lucro.
Na medida em que o mercado de Wall Street começou a encurtar os prazos, os investidores começaram a ficar mais sedentos. Isso impossibilitou aos presidentes dos conglomerados de terem políticas de compaixão com seus negócios. Cada vez Wall Street foi mais nervosa quanto aos resultados semestrais, depois trimestrais, depois mensais. Se dava uma variação, por pequena que fosse, as ações já ficavam nervosas. Dali então a ordem foi: "Dê lucro! E já!". Na medida que isso foi penetrando na indústria fonográfica se instalou uma pressão sobre os dirigentes locais, daqui e do resto do mundo, cada vez mais feroz.
O cara que está sentado aqui recebe telefonemas a cada três dias: "Como é que está esta semana?". Ele pira daqui. É "não quero saber, eu quero os números". Eu estive do outro lado, sei bem como é esse negócio (ri).

Folha - Ou seja, a indústria foi sendo cada vez mais pressionada, por um lado por Wall Street e por outro pelas rádios locais?

Midani - A situação é hoje tão incompreensível como era então. Como é possível que cinco companhias poderosas não possam se sentar e dizer: "Acabou?" Várias vezes tentei isso, e sempre me dei mal. Eu ia lá, propunha o acordo e aceitavam. Uma semana depois, fulano furava o acordo. Aí todos furavam também, eu continuava e me dava mal a cada vez. Houve uma vez, por exemplo em que não fui eu que liderei o movimento antijaba. Quando a corda rebentou todo mundo disse: "Foi o Midani". Paguei pelo pecado que fiz e pelo que não fiz. Um dia vi que não tinha nenhuma vocação para ser um crucificado, então fui tentar organizar o jaba dentro da companhia para que pelo menos fosse uma coisa mais objetiva e profissional.

Folha - Por que esses acordos nunca deram certo?

Midani - Só posso entender que em determinado momento uma determinada companhia está pra falir (situação de fragilidade orçamentária), e então a tentação é muito grande. Sempre há um executivo nessa situação. Há, por exemplo, o caso recente da Abril Music. Então essa companhia desesperada entra no mercado, paga o que tiver que pagar para tocar e desestabiliza as outras companhias. O prejuízo da Abril foi de milhões em cinco anos. Evidentemente, esse dinheiro foi para a contratação de artistas em demasia, para formar um catálogo, (o que é compreensível). Mas a sede de ter sucesso imediatamente fez com que a companhia criasse uma (fosse 1 grande catalisadora da) tormenta jabazeira.
uma vez é a Abril, outra vez é outra empresa que está em situação complicada, outra é uma mudança de gerência... Sempre há um acidente que impossibilita a tranquilidade do mercado.

Folha - Também por pressão do esquema organizado, dos divulgadores?

Midani - Não, porque se as cinco companhias se entendessem e aguentassem um tempo eu suponho que a situação se tranquilizaria. Se não toda, porque acabar com toda corrupção é impossível, pelo menos parcialmente, que não seja um câncer tão gde como o de que todo mundo se queixa hoje.

Folha - Marcos Maynard sempre negou que fizesse jabá na Abril.

Midani - Sempre se diz que não é jabá, mas é simplesmente um jogo de palavras.

Folha - O sucesso ficou necessariamente condicionado a esse esquema?

Midani - Temo dizer que sim. A gente não sabe se é a galinha ou se são os ovos, mas o jaba foi agravado pelo que poderia se dizer uma falta de novos talentos genuínos. Não sei se é verdade ou não, mas se poderia dizer que, na visão da indústria, isso foi agravado por uma certa falta de talentos novos, pouco preparados ainda. Então veio um novo tipo de executivo, o cara que faz o artista, escolhe as músicas, bota dentro do estúdio. É música pré-fabricada para o sucesso. Nos anos 80, os produtores passaram a dizer: "Eles não sabem se fazer, então nós fazemos o artista".
É uma coisa completamente antípoda da minha atitude quanto ao artista. Não vou dizer que tenho razão, mas são estilos absolutamente opostos. Telvez, dentro das minhas loucuras, eu tivesse gostado de dizer: "Vou fazer um artista". Mas eu não tinha capacidade (nem cara de pau) nenhuma de fazer, então nunca me meti nisso. Se há uma pessoa que nem canta muito bem nem canta muito mal, nem tem muita personalidade nem tem pouca personalidade, o que eu vou fazer com ela? Não sei trabalhar assim, nunca foi meu estilo.
A partir do momento em que um falso artista é puramente fabricado, necessariamente o investimento em publicidade e marketing começa a (precisa) tomar uma importância desmedida. (Vendem a alma, a moral, a esposa) (Belo).

Folha - Profissionais de rádio afirmam que "não se toca uma música só por causa de jabá. Dizem que é preciso haver um respaldo de audiência, de qualidade". Com dinheiro, qualquer coisa toca no rádio?

Midani - Quando surgiu o rock dos anos 80, o rádio estava absolutamente fechado a esse tipo de música (o rock). O rádio é um sistema eminentemente conservador. (programas de rádio são dirigidos a determinados gêneros musicais). Quando lançamos a bossa nova, o rádio achou que era um absurdo, o mesmo aconteceu com a tropicália. O homem do rádio não vê a música pelo que ela é, vê o anunciante, que vai tirar sua publicidade se a rádio baixar de audiência.
No rock dos 80, existiram algumas músicas de Paralamas do Sucesso, Kid Abelha, Titãs e Ultraje a Rigor que furaram o bloqueio natural. Foi uma surpresa. Ficamos com a música "Inútil", do Ultraje, quatro, cinco ou seis meses sem tocar. Um belo dia, começou a tocar. Acho que o rock não sofreu efeitos de jabá para impedi-lo de penetrar. Os programadores devem ter reconhecido o interesse publico, achado que era um sopro novo nas suas programações.

Folha - Aí o jabá entrou como elemento para fortalecê-lo?

Midani - Com certeza. Se me perguntar quais lembranças eu possa ter dos meus jabás, posso dizer: paguei por toda aquela linha de frente que eu tinha.

Folha - A geração dos anos 80 contou muito com o programa do Chacrinha para fazer sucesso. Como terminou sua briga com ele?

Midani - A gente coloca o Chacrinha, mas ele também foi uma pessoa que fechou os olhos para seu filho, Leleco Barbosa. Leleco era quem fazia a programação do Chacrinha, e foi uma das pessoas mais militantes, se se pode dizer isso, nesse negócio nojento.
Não me lembro direito de como acabou, levou um tempo. Certamente houve a turma do deixa-disso, amigos comuns, artistas dos quais Chacrinha gostava muito e estavam trabalhando na Warner. Um dia, recebi um recado de que ele gostaria de se reconciliar. Creio que a gente almoçou juntos, ele não tocou no assunto nem eu. (ele fingiu que não houve nada, eu também fingi que não havia nada). Ficou aquela mútua hipocrisia. Chacrinha me convidou ao programa dele para receber um prêmio, as pazes foram feitas e não tinha mais problema, sempre nos consideramos (respeitamos) muito.

Folha - Os grandes nomes de sucesso pagam jabá?

Midani - Até hoje! Hoje estou realmente afastado, mas um ano atrás tive informações de números estupendos. No início do governo FHC, se nos Estados Unidos o custo de lançar uma música no rádio com esse tipo de ajuda promocional era de US$ 300 mil por canção, no rádio brasileiro era de R$ 80 mil a R$ 100 mil, na época em que um dólar era um real. Ou recebi informações erradas, ou esses números são reais.

Folha - Para uma rádio não seria vantajoso tocar a nova música de 1 grande artista de grande sucesso?

Midani - A não ser honrosas e poucas exceções, como Roberto Carlos, não importa o tamanho dos artistas. Tem que pagar. A honra e o prazer são coisas que não existem mais, em geral.

Folha - Mesmo a rádio correndo o risco de prejudicar sua própria audiência?

Midani - É, mas a partir do momento em que o sistema funciona dessa maneira, não tem como parar. Uma toca porque alguém deu dinheiro, outra também toca o mesmo cara, então todo mundo vai. (Maria vai com as outras). Hoje, a indústria fonográfica vive um momento de crise estrutural (por causa da mudança de tecnologia), criativa (porque raramente aparece um artista que já está pronto no primeiro disco) e econômica (por recessão).

Folha - O que você acha de uma lei de criminalização do jabá?

Midani - Acho indispensável, porque se você paga jabá e não tem recibo você não pode deduzir essa despesa do seu Imposto de Renda. Não pode entrar como despesa operacional. Hoje o meio radiofônico e o meio fonográfico estão cheios de subterfúgios para isso. Se você comprovar que esse dinheiro não foi usado para divulgação limpa, mas para jabá, não acontece nada porque não existe lei que diz que subornar é contra a lei e dá cana. Não se tem esse elemento.
Quando comecei a trabalhar nos Estados Unidos, a primeira coisa que recebi em minha mesa foi o chamado livro branco antijaba. Eram diretrizes de como se deve comportar com ética, e eu tinha que assinar que na minha gerência nenhum país que estava ligado a mim em nenhum momento ia fazer práticas de suborno. Lá é lei.

Folha - E lá jabá é considerado uma forma de suborno?

Midani - Então, o que é? Aqui não é considerado dessa maneira, mas é claro que é. É uma questão veicular: eu lhe pago para você falar bem de mim no seu jornal ou na sua rádio, mesmo que você não goste da minha cara, eu aumento o preço e você acaba falando bem de mim. Isso é suborno. Se chama jabá, suborno ou campanha promocional (ri), moralmente é um suborno.

Folha - Quais outros prejuízos a prática de jabá pode trazer ao mercado musical?

Midani - Hoje em dia eu diria que não tenho nada contra o jabá. Tudo depende do que COMO se faz esse jabá. É um pouco como a Rifle Association nos Estados Unidos. Eles dizem que o fuzil não mata, quem mata é quem puxa o gatilho. É um raciocínio incrível, né? Vamos supor que nos idos de 70 a situação fosse como é hoje. Eu teria botado jabá em cima de Caetano, Gil, Chico, desse pessoal todo. E todo mundo teria aplaudido, porque valia a pena. (Como o Maluf = Rouba mas faz). Começa a ficar pior quando você faz uma aventura: pega um artista que não tenha nenhuma qualidade além de ser bonitinho, empurra uma meia dúzia de canções feitas por quilo, e depois coloca dinheiro por cima.
Tudo depende do que você faz com o jabá. Se for colocar o famoso jabá em cima do que poderíamos chamar uma causa nobre, graças a Deus poder convencer as pessoas de tocar uma coisa que é boa. Se era para botar jabá em cima de Raul Seixas, por exemplo, não me lembro bem, mas botei com muito prazer, porque estava convicto que aquele cara era fantástico. Há cores nessa história, não no lado ético, mas do lado empresarial, objetivo.

Folha - Se emplacasse, a lei anti-jabá seria boa para quê?

Midani - É bom que exista a lei, não só do jabá do disco, mas no geral. Este país está permeado de jabá, não só do fonográfico. É uma sociedade cancerosa com o jabá. O país é jabazeiro.

Folha - Além de dinheiro vivo, o jabá também incluía "mercadorias"?

Midani - O que for. Dinheiro, drogas, prostitutas que eram levadas até o cara no fim-de-semana. Isso já não creio que exista hoje em dia na indústria.

Folha - Há quem defenda não a criminalização do jabá, mas sim sua legalização e regulamentação. O que você acha disso?

Midani - Mas aí se está violando o que se chama de as forças do mercado. Como se vai fazer isso? Determinar quanto se paga para um artista novo, quanto se paga para um veterano?

Folha - Seria mais difícil do que coibir?

Midani - É claro. Dali a pouco ia precisar de uma Ecad [órgão responsável pela cobrança de direitos autorais] para controlar isso, uma Ecad do jabá. São coisas ingênuas.

Folha - Também não seria ingênuo acreditar numa lei de criminalização?

Midani - Mas é assim que se faz. A lei sempre é um suporte, um sofá sobre o qual você pode se sentar quando necessário. Há 10 ou 15 anos, os políticos roubavam mas nem se sabia disso. Aí veio um ciclo em que começou a se divulgar, estamos entrando num ciclo em que começa a custar caro. ainda vai ser um grande negócio ser um político honesto. O que a gente pode desejar é que se minimize o jaba. Acabar com isso não dá. É o mesmo q qualquer outro crime. Pra acabar esse excesso de jaba.

Folha - Gravadoras e rádios em geral são vistas como as vilãs desse esquema todo, enquanto os artistas às vezes aparecem até como vítimas. Mas eles não são coniventes?

Midani - Posso dizer que, uma vez que se faça um acordo, muito artista deve saber. No passado, quem pagava o jabá era o empresário do artista. De onde ele recebia a grana? Da gravadora, obviamente. E o artista estava ciente. O artista sempre sabe. O que ele diz é que não quer se meter em briga de gente grande, "não estou aqui para pagar pelas brigas de vocês". É objetivo assim.

Folha de São Paulo