segunda-feira, 4 de maio de 2009

Divagações de um neo-hippie


Ele não é real. Ao menos não tecnicamente. Mas vive nos palcos e seus questionamentos e pensamentos são garantia de reflexão. Enquanto fala, é praticamente impossível não revermos nossa postura diante a vida.

Da Redação


Para chegarmos até ele precisamos ir ao teatro. Mas não por ser um ator, mas sim um personagem. Conhecido como “hippie industrial”, talvez nem saiba que nasceu de uma frase mal entendida. Cleiton Profeta, autor da peça Veja Você Mesmo da Cia. Circus Musicalis foi o 'pai' dessa figura com traços de filosofo. “A idéia de nome surgiu por acaso, quando eu escutei errada a letra de uma música que diz assim: 'de um rico industrial' e entendi, ouvindo o vinil sem encarte, que o autor cantava 'presente de um hippie industrial'” conta Profeta entre risos. Na época, Cleiton morava em Florianópolis e trabalhava “vendendo badulaques e tocando música para os casais na Praça XV”, como ele mesmo descreve. Assim surgiu a reflexão de que estes exemplares industriais poderiam ser os filhos dos hippies numa geração capitalista. “Artesões vendendo plástico, entende?” exemplifica o também diretor da peça.
O hippie não tem nome. Segundo seu criador, nomeá-lo o tornaria muito comum. “Acredito mais na descrição”, comenta Profeta. Através das próprias palavras do personagem podemos ver seu ceticismo: “Não é por que eu nunca vi um japonês negro que não exista um”. A postura assumida por ele chega a passar uma certa indiferença. “Eu não aposto um centavo que exista Deus, mas também não apostaria que não exista”, conta o hippie.
É da sua natureza uma certa inquietação, comum na maioria dos filósofos. Um de seus assuntos alvos de seu ceticismo são as religiões. "Eu não entendo como pode, em pleno século XXI o mundo ser regido por guerras e religiões se é tudo tão simples..." comenta a personalidade. É provável que esse lado neo-hippie emprega no personagem uma certa paixão, e esta é cativante para o público. Seus ideais são liberais, anti-conservadores. Ele discorda plenamente de todas as religiões. Para ele, não significa que nenhuma delas seja "a verdade". Porém isso seria afirmar que as outras centenas de crenças diferentes estariam equivocadas.
Até aí não é tão complicado compreender a acompanhar o raciocínio. mas então surge a pergunta: Porque um hippie industrial? Ele mesmo responde:"Isso é a antítese essência, é como um cara que da socos em busca da paz. O próprio movimento hippie teve esse caráter dúbio, pois o que era na verdade certa covardia de não querer ir pra guerra, virava uma solução para a paz. E além disso, essa foi a última vez na história da humanidade onde realmente se esperou mudar o mundo." define.
Para quem espera uma atitude revolucionária da parte desta figura, pode se decepcionar. Ele acredita que cada um deve levar a vida do jeito que achar melhor, desde que não interfira na liberdade do próximo e não agrida o meio que o cerca. E a morte? Ele também não se preocupa com isso. Mas não por ignorar: simplesmente por estar tranquilo com ele mesmo. O hippie tem uma certeza se ele está vivo é para aproveitar a vida como ela é. Preocupações com o que vem depois do último dia vivo? "Eu não vejo o menor problema em se depois da morte for simplesmente o fim. ou se houver um julgamento justo, serei "aprovado, pois fui uma pessoas justa em vida" defende ele. Porém caso o ser superior seja "malvado" para lhe castigar, ele se considera pronto. Mas dentro do seu ceticismo ele não apostaria nisso. Para ele, usando a lógica, essa seria a opção mais improvável.
Por fim, podemos dizer que o hippie industrial representa aquela parte inquieta de cada um de nós. O senso questionador, mas ao mesmo tempo igualador define: apesar de sermos diferentes, somos iguais. Mas são poucos os que expõem tais perguntas mesmo para si. Talvez se deva a isso o fato do hippie ser, ainda, apenas um personagem.

(Redação Revista Nossa Santa Catarina - Fevereiro de 2009)

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