quinta-feira, 9 de junho de 2011

Cabelo, o músico inventor

Fábio Felippe, conhecido pelo apelido, sempre foi apaixonado por novas sonoridades.

Músico, ator e luthier inventor. Fábio Felippe, mais conhecido por Cabelo, mistura as três profissões para dar vida às suas criações. O músico mora no bairro Boa vista, em uma casa aparentemente normal, a não ser por um cômodo, no qual armazena diversos instrumentos, das mais variadas formas e sonoridades. Entre ferramentas, violões, garrafas e tubos de PVC, Fábio guarda uma grande sabedoria musical que, há mais de 15 anos, transforma em arte.

Fábio despertou seu gosto pela música aos dez anos, quando ainda estudava na cidade de Rio Negrinho. Seu primeiro instrumento foi uma flauta doce, apresentado por um professor da Casa da Cultura durante um projeto que o município desenvolvia nas escolas da região. Dois anos depois, Cabelo começou a tocar teclado e, posteriormente, violão, instrumento pelo qual se apaixonou.

— Tentei tocar guitarra, mas, até hoje, o violão é o instrumento de que mais gosto —, conta.

O artista acredita que é possível viver da música em Joinville, mas, para isso, é necessário fazer outros bicos na área.

— Eu faço trilhas, gravações, oficinas, vendo instrumentos e dou aula de violão —, explica.

Atualmente, um dos serviços de Cabelo é a confecção de instrumentos para as escolas de Joinville. O chinelofone é um dos equipamentos que, futuramente, será instalado em algumas escolas da região para aulas de música. Entre as invenções, algumas criações chamam a atenção, como o tricorde, uma espécie de rabeca tocada com arco, e o duecelo, também tocado com arco e com o som mais grave.

Em Joinville, Fábio estudou nos colégios Presidente Médici e Jorge Lacerda. O artista também morou na Bahia e em Curitiba, onde chegou a estudar música na Faculdade de Artes do Paraná (FAP). A experiência no Estado vizinho foi rápida. Quando retornou para o Norte catarinense, voltou para completar a nova formação da banda Smokers, grupo do qual já havia participado. O rock progressivo e psicodélico dos Smokers revela um pouco das influências musicais de Cabelo, como Hermeto Pascoal e Naná Vasconcelos.
 
 Harpa de boca, didgeridoo e hang drum são outros dos instrumentos exóticos presentes na casa do músico. Mas as criações não ficam guardadas apenas na residência: os instrumentos também são utilizados em apresentações teatrais, shows e até em filmes. Recentemente, Cabelo fez a trilha sonora para o documentário “1951”, sobre o ano do centenário de Joinville.

— Fiz o trabalho sem ver as imagens. Quando vi o documentário pronto, foi uma surpresa. Gostei muito do resultado —, revela.

No teatro, Fábio já apresentou trabalhos próprios como “Todo Meu Som” e “Aosom”, além de espetáculos com Paulinho Dias e Cleiton Profeta, por meio do grupo Circus Musicalis. O artista também já viajou para vários Estados brasileiros, como São Paulo, Rio de Janeiro e Pernambuco, com um projeto de contação de histórias, em parceria com Ilaine Melo. As experiências nunca param. Fábio pretende continuar a conhecer novas culturas, produzir instrumentos e agregar opções de sons nos seus trabalhos e oficinas.

(A Notícia - 09/04/2011)







terça-feira, 7 de junho de 2011

Conheça Muriel Szym, o contador de histórias

Contrariando a trajetória comum de artistas, ator trocou Curitiba por Joinville
Entre todas as atribuições que Muriel Szym carrega, talvez a que mais se encaixe ao cara de cabelos compridos e barba loira é a de viajante. Pelo menos era essa a principal certeza que ele tinha do que gostava de fazer quando desembarcou em Joinville há pouco mais de dez anos, ainda sem rumo certo pra própria vida, com uma única vontade: viver e, assim, descobrir qual era seu papel no mundo.

Aos 30 anos, ele afirma já ter esta resposta. De quebra, deu à cidade que escolheu a oportunidade de contar com seus múltiplos talentos e com sua vontade de criar para fomentar a produção artística e cultural joinvilense. Os anos 90 chegavam ao fim quando Muriel saltou em Joinville sem nunca ter pisado na região antes.

Ou melhor, ele saltou e não olhou muito em volta, já que foi direto para São Francisco.

— Eu me lembro de ter olhado no mapa e falado: caraca, tem uma ilha no meio! Esse lugar deve ser o paraíso — lembra ele.

A escolha não foi aleatória, já que o curitibano apaixonado por natureza foi atraído a Joinville pelo curso de turismo com ênfase em meio ambiente que o Ielusc oferecia na época.

— Conversei com a Elizabeth Tamanini e consegui um estágio no Museu Fritz Alt. Aí ficava pirando lá, lendo tudo sobre ele, desenhando as esculturas — conta Muriel.

Como precisava de dinheiro, ele criou uma performance com desenho e poesia que oferecia pela cidade, mas elas só duraram até que ele conhecesse Cleiton Profeta, que deixava a arte de rua para começar um grupo de teatro.

— O Profeta me falou: cara, tô criando um espetáculo musical. Eu achei meio estranho, mas fui no ensaio para ver qual era — admite.

Foi assim que surgiu o Circus Musicalis e Muriel estreou no palco, mas não como ator. Ele montava um cavalete, fixava a tela e fazia pinturas na peça "Alegoria do Sonho". Na segunda temporada, como um dos atores desistiu e Muriel já tinha as falas decoradas, pediu uma chance.

— Foi assim que 'desembuchei' como ator — define.

À convite de Ilaine Mello, fez o curso de contação de histórias e descobriu que tinha jeito pra isso. Tanto que, em 2003, ele e o amigo Fábio Cabelo partiram para a Bahia como contadores de história. Cabelo logo voltou, mas Muriel continuou a jornada sertão adentro até chegar ao Rio São Francisco contando algumas histórias e conhecendo outras.

Foi ao voltar para Joinville que ele percebeu: tinha virado artista. Mas não parou de viajar. Com a Cia. Mútua de Bonecos, viajou pelo Brasil inteiro. Depois, foi a vez de explorar Santa Catarina ao participar de espetáculos de grupos locais. Desde então, seu currículo nas artes precisa de muitas páginas para conter todas as atividades.

Pode ser contação de histórias, teatro, música, audiovisual ou pintura: não importa, é só haver uma produção cultural, que Muriel está "metido" lá.

— Eu tenho sorte de as oportunidades aparecerem, mas também sou muito metido, vou lá e pergunto se posso participar — afirma ele.

Cláudia Morriesen

(Jornal A Notícia - 07 de Junho de 2011) 

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Há 40 Anos...

     Os 70 já não eram algo tão novo assim, os Beatles tinham acabado, "Have You Ever Seen the Rain?" tocava no rádio dia e noite, o Brasil
já era tricampeão mundial de futebol, Eric Clapton já havia lançado com sua então banda Derek and the Dominos o espetacular "Layla and
Other Assorted Love Songs” e a década se mostrava rapidamente como a mais criativa no mundo da música.

O ano era 1971, e uma avalanche de álbuns que ficariam para a eternidade tomava proporções inimagináveis! Foi em 1971 que o Jethro
Tull lançou o supremo "Aqualung", no mesmo ano à banda America dava as caras com seu disco homônimo; quem nunca foi a um barzinho
e repetiu o "la, la, la" do refrão de "A Horse With No Name" cantada ao violão? Janis Joplin tinha morrido de overdose no ano anterior,
mas foi em 71 que "Pearl", seu disco mais conhecido, foi lançado. O Walt Disney World é inaugurado, mas nem tudo eram rosas; Charles
Manson era notícia e a Guerra do Vietnã se arrastava, porém ainda havia a ingenuidade dos anos 60 no ar e sim, muita bandas achavam que
iam mudar o mundo e mudaram! John Lennon lançava "Imagine", imaginem: isso foi há 40 anos!

Penso agora como seria hoje eu escrever um artigo sobre a música no mundo em 1971 no melhor estilo “Back to Future”: O Led Zeppelin
lança seu 4º álbum e tem uma música épica que vai ficar na história, o nome dela é "Starway To Heaven". Aposto que até 2011 esse disco
venderá 24 milhões de cópias! Esse é o som da moda, o Black Sabbath é a banda do momento e seu "Master of Reality" é sem duvida mais
uma obra prima. Para quem é fã do estilo tem também o novo do Deep Purple: "Fireball".
Sobrou dinheiro para comprar mais um disco? O Alice Cooper lançou o clássico "Love it to Death" e aproveite, pois todas essas bandas
estão no ápice da carreira com suas formações clássicas! Heavy Metal não é muito a sua praia? Já ouviu o novo do Bee Gees? Chama-
se “Trafalgar”, aposto que daqui a 40 anos seus filhos cantarão “How Can You Mend a Broken Hear” em um videoquê, não sabe o que é um
videoquê? Está vendo... todo mundo é mais feliz em 1971!
Falando em felicidade, não pode morrer feliz quem nunca escutou “Tea for the Tillerman” do Cat Stevens que agora lança o “Teaser and
the Firecat”, mas ele ainda é Cat Stevens!
Quer viajar? Já ouviu “200 Motels” do Frank Zappa? É experimentalismo demais? Que tal então o “L.A. Woman” do The Doors? Tem
também o “Meddle” do Pink Floyd. Se gostar de progressivo não perca “The Yes Album” do Yes!
Prefere viajar no virtuosismo? Tente o “Pictures At An Exhibition” do Emerson, Lake & Palmer!
Gosta de rock? Do bom e velho rock? Os Stones estão lançando um de seus melhores álbuns, o famoso “Sticky Fingers”, isso mesmo aquele
do zíper...
Há também o Rod Stewart com o “Every Picture Tells A Story”, quer mais peso? Ele gravou com o Faces o “A Nod Is as Good as a Wink to
a Blind Horse”, disco que viria a se tornar influência para a geração punk que chegaria alguns anos depois.
Falando em peso, já ouviu o “Who's Next” do The Who? Quer algo mais leve? Don McLean acaba de dar a luz a “American Pie” e o Elton
Jhon lança o seu melhor disco: “Madman Across The Water”!
O que? Os brancos dominaram a indústria da música? Onde estão os negros sempre tão geniais?
1971 foi o Ano Internacional da Luta contra o Racismo e a Discriminação Racial e Marvin Gaye lança um dos discos mais aclamados de
todos os tempos: “What's Going On”! O Sly & the Family Stone esta nas lojas com: “There's A Riot Goin' On”; Você já ouviu esse?
Não? Deveria! Aproveite e compre também o “Maggot Brain” do Funkadelic! Nesse ano ainda o Jacksons 5 lançam dois discos: “Maybe
Tomorrow” e “Goin' Back to Indiana”, é mole? Você ainda não ouviu a Tina Turner cantando "Proud Mary" na rádio? Gosta de cantoras?
Carole King lançou o “Tapestry”...
Não citei todos? Verdade! O David Bowie veio com o estupendo “Hunky Dory”... Sim, faltou também o David Crosby que lançou o
charmoso “If I Could Only Remember My Name”... bem lembrado! O quê? Você mora no Brasil e nessa época os discos levam anos
para chegar, pois praticamente não entra produto importado no país devido ao tal do protecionismo? Aqui no Brasil um maluco montou
uma tal “Sociedade da Grã-Ordem Kavernista”, aposto que ele vai fazer sucesso em breve dizendo ser a “Mosca na Sopa” no lado A e
fechando o lado B com uma épica reclamação do sucesso, e ele deveria sim estar contente! Mas corram que essa sociedade vai sumir
misteriosamente das prateleiras assim como surgiu...
O Robertão fez “Detalhes”, tá certo que outros cabeludos tentarão em vão gravar essa música, mas ele, o Robertão, não vai parar de
cantá-la nunca. Falando em Robertão, aquele gordinho que deu as primeiras de violão pra ele lançou seu segundo disco que é o “ó do
borogodó” (ou seria uma brasa?). Sem título, apenas Tim Maia vol 2 e “Salve Nossa Senhora”! O compositor de maior prestígio do país
lança o seu disco de maior prestígio: “Construção”, o Caê está morando em Londres, mas “London, London” será sucesso na década seguinte
e não queiram nem saber com quem...
E o Brasil não seria Brasil sem as “Cartas de Amor” do Waldik Soriano, sem Luiz Gonzaga cantando “Ovo de Codorna” e sem a “Tonga da
Mironga do Kabuletê”.
Como acredito que jamais poderei viver em 1971, penso então como será se em 2051 se me pedirem para escrever sobre a música no
mundo em 2011... pois é, poderei escrever que em 2011 grandes discos estavam completando 40 anos...

(Cleiton Profeta 10/03/2011.)

Publicado na Revista Wazap Mag
Vôo com escala, novela, baldeação,
Indiretas, dormir cedo, ver televisão
Fila para banco, burocracia, reencarnação,
Esperar por quem se atrasa, abstenção,
Fila pra boate, deixar pra amanhã e oração.

Para mim isso tudo é perda de tempo.


(Cleiton Profeta - 01/06/2011)