segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Normalmente leio coisas como: "A Globo cria aberrações musicais". Se referindo ao surgimento cada vez mais constante de Naldos e duplas mequetrefes que infestam a cultura de massa. Não que a expressão esteja totalmente errada, sendo que a Som Livre que é subsidiária da empresa plim plim no ápice da era das gravadoras deve ter injetado muito jabá em seus artistas e o primeiro que me vem a mente é a Xuxa. Sendo esse ápice fonográfico a segunda metade dos anos 80 e primeira dos anos 90, deveríamos pela lógica crucificar a Globo pelo sucesso - ou manutenção dele - de artistas como Tim Maia, Rita Lee, Lulu Santos, Cazuza (que pra quem não sabe é filho do João Araújo, fundador da citada gravadora), Luiz Melodia, Oswaldo Montenegro, Elis Regina, Djavan e Novos Baianos? Hoje o casting de artistas da Som Livre se restringe quase que totalmente ao mercado cristão/ evangélico. Mas eu quero chegar é na verdade que é muito mais simples, mas tão mal compreendida: A Globo apenas vende publicidade, seja em forma de comercial, seja na forma de falso jornalismo ou em espaço em programas de auditório. Então da mesma forma que o próximo hit infernal do verão que vai tocar insistentemente nos carros rebaixados dirigidos por carinhas de boné para trás aparece "do nada", Marias Ritas e Anas Carolinas seguem a mesma trilha sistemática. Não é uma teoria, não é segredo... apenas é assim que funciona. Fica sem graça quando se entende né? A visão romântica de uma carreira de sorte se desfaz... 

Para quem AINDA não sabe o que é "jabá" uma breve explicação: no inicio dos anos 40, executivos de gravadoras, como Leonard Chess (que você pode ver no maravilhoso filme Cadillac Records), começaram a oferecer suborno para convencerem radialistas a tocarem músicas de negros nas rádios. Ao serem tocadas nas rádios as músicas viravam sucessos imediatamente. Isso edificou todo o esquema do mercado fonográfico, esquema que logo migrou para toda a imprensa, programas de auditório, trilhas de novelas e tudo mais o que você puder imaginar. Portanto, caros amigos, sinto em dizer que quando sua banda favorita ganha um prêmio por ser a mais tocada ou coisa parecida, esse prêmio nada mais é que fruto de um bom jabá. Não é segredo, não é teoria, nunca foi feito de forma obscura, apenas - como a maioria das coisas do mundo - passa despercebida pela maioria das pessoas e, logicamente, essas pessoas que não percebem são as que mais consomem os produtos ditados pelo tal jabá.

E já que citei o Cazuza, vale lembrar que ele antes de gravar teve uma profissão que hoje é extinta (pelo menos no formato), ele assim como o Raul Seixas, o Roberto Menescal e vários outros, era o "produtor artístico". Essa função consistia em escolher não só quem gravaria o quê, mas também quem seria contratado pela gravadora, então aquela cena clássica do cara da gravadora escutando zilhares de K7's para lançar uma banda era algo bem habitual até o inicio dos anos 90, quando esses produtores foram sendo substituídos por burocratas, caras que viam que o contrato era mais importante que o artista e que o produto final (o disco). Poderia me estender, mas como sei que texto longo ninguém lê, foi pinçando o tema de forma homeopática, literalmente, pois não acredito que um dia o senso comum compreenderá o que lhes cerca...

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