sexta-feira, 15 de julho de 2011

Uma música por vez


Há dez anos lancei um disco. Queria muito realizar o projeto mas não tinha como bancar  um estúdio, então o gravei na sala do meu apartamento, take a take, em um MD, e mixei em um estúdio de rádio. Confesso que ficou péssimo! Muito abaixo do que as canções representariam ao vivo. Prometi para mim mesmo que o próximo seria bom.
Vieram novos projetos, novas canções e o tempo passou rápido. E hoje – 10 anos depois – tenho dois discos praticamente prontos, guardados em um HD. Mas a pergunta é: como se lança um disco em 2011?
Bandas gigantes disponibilizam seus discos gratuitamente em diversos sites (e eu acho isso ótimo!), mas vocês já reparam que, normalmente, a primeira faixa tem 30% a mais de execuções do que a segunda? A terceira faixa segue o mesmo destino e assim sucessivamente. Se a última música do álbum for a melhor será, inevitavelmente, a menos ouvida! Isso é um reflexo claro de que o público não tem mais paciência para ouvir mais que duas ou três músicas de uma vez, e raramente chega às últimas faixas. Nunca houve tanta música disponível, mas nunca se ouviu tão pouca música. O público prefere ouvir 30 segundos de dez músicas diferentes do que dar chance a duas faixas de uma banda que não conhece.
Posso, mais uma vez, estar fazendo o papel do tiozinho saudosista, mas adorei quando o Pink Floyd ganhou na justiça o direito de não permitir que sua obra fosse estraçalhada, vendida de canção em canção. Eles consideram seus álbuns uma obra completa, sendo cada música uma parte dela, assim como um filme é composto cena a cena. A escolha da música que abre, a que vem depois, a que fecha o álbum, a mixagem, o clima faixa a faixa… Tudo faz parte da concepção de uma obra fonográfica. Quem está nascendo agora terá grandes dificuldades em entender que – não faz tanto tempo assim – comprava-se um disco e o escutava por  inteiro. Depois, claro, você escolhia suas preferidas e gravava em uma K7, mas era comum encontrar o “lado B” em coletâneas pois cada um fazia a sua.
Acho que hoje, sistematicamente falando, o caminho para produtores e bandas talvez seja lançar uma música por vez.
Isso com certeza venderá muito mais que um disco lançado na íntegra.

Cleiton Profeta

Texto para a Wazap Mag

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